Só um exemplo: tomar sorvete. Sabe aquela pergunta clássica? Casquinha ou copinho? Eu mesmo vivia pedindo o descartável, até gravar este programa, e alguém me falar no assunto. Que sentido faz trocar um alimento por uma coisa que vira lixo?
Imagine a diferença que uma escolha tão simples pode fazer. O fato é que podemos nos acostumar a viver com menos plástico.
Mas e com menos tecnologia? Quem se arrisca? Quanto tempo dá para ficar sem os maravilhosos eletrônicos que adoramos comprar. E trocar, a cada novo modelo? Essa dependência gera um lixo perverso, dos mais perigosos.
Alex coordena uma espécie de oásis. Escondido numa rua tranquila da Barra Funda, bairro antigo de São Paulo. De repente, ao se dobrar uma esquina, está a fachada verde. É uma cooperativa. Ela não oferece água a viajantes sedentos. Quem já descobriu o lugar vai atrás de outro tipo de alívio: se ver livre de sucata eletrônica. Quem não tem uma caixa com eletrônicos velhos em casa?
"Aqui a gente faz de tudo um pouco, às vezes chegam as gaiolas cheias de coisa onde tem que separar teclado, mouse, de TV, tudo cortando fio. Então, todo mundo faz um pouco de tudo", conta Jaqueline.
"É, torna-se algo compulsivo. À medida que a tecnologia vai avançando, as pessoas não querem ficar para trás e outra, eles querem sempre ter um melhor que o outro. O meu tem que ser melhor do que o do outro. Não importa que o antigo esteja funcionando em perfeito estado", analisa o reciclador Flávio Serbaluk.
"Ele tem uma identidade, um local onde ele armazena as informações, e a gente não pode desfazer de um equipamento com informações de outras pessoas. Tem que apagar tudo e aí desmontar", explica Flávio.
Ouro, lítio, prata, cobre. São muitos metais preciosos nas entranhas de um computador. E cada pedacinho pode ser reaproveitado. O material mais valioso está nas placas-mãe e nos processadores.
As placas, a maioria fabricada na Ásia, saem de lá para os computadores do mundo todo. Mas esta não é a última viagem delas. Na hora de descarte, podem até fazer o caminho de volta. Ou fazer escalas, saltando pelos continentes. Depende de quem vai extrair os metais nobres, dar destino correto aos contaminantes.
Mundo afora, o trabalho com a chamada "logística reversa" atrai cada vez mais pessoas. Desmontar e dar destino útil até não sobrar quase nada para o lixo. Mas, por enquanto, eliminar chega a ser até mais difícil do que a própria fabricação do produto.
"Um monitor, por exemplo. Eu vou desmontar todo ele, mas eu preciso descontaminar o tubo. Eu preciso gastar o meu dinheiro para descontaminar o tubo. E eu não trato, eu não sou uma indústria, uma empresa que tenha a licença ambiental para fazer esse tipo de trabalho. Eu preciso contratar, pagar uma empresa que tenha a licença e a estrutura, e o equipamento, e a máquina, e o profissional para fazer esse tipo de trabalho", explica Alex.
Esse é um desafio grande, porque é uma mudança de comportamento. As pessoas têm essa resistência. Você sempre acha que a responsabilidade é do próximo e não sua. A criança, você percebe que ela entende que é dela: ‘isso aqui é meu e eu vou ter que fazer’. Então dá esperança de que uma geração futura já tenha um novo comportamento. Talvez o desafio seja essa geração que está agora. Como que a gente consegue fazê-la mais consciente para ela começar a consertar o problema?",Por: reflete Alex.
FONTE: Jornal da Globo